quarta-feira, 16 de julho de 2008

Que vergonha Brasil II

Prisão de banqueiro expõe reação elitista
Por Hamilton Octavio de Souza - de São Paulo
Toda vez que o sistema policial-judicial denuncia altas bandalheiras e põe atrás das grades algum figurão, a reação das elites – econômicas, políticas, intelectuais – costuma ser imediata e eficaz, embora cercada de alguns disfarces. No caso das prisões do banqueiro Daniel Dantas, do especulador Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, a reação reproduziu o padrão habitual, de forma a escancarar que os privilegiados em geral são solidários com os seus criminosos e não aceitam que sejam tratados no mesmo nível de outros criminosos pegos pelo sistema.
Alguém já disse, acertadamente, que a Justiça brasileira não está preparada para a democracia. A polícia brasileira também não, assim como boa parte dos 10% mais ricos do país. Aqui ainda é normal que o BOPE invada as casas de favelados, aterrorize a população periférica e execute pobres sem que seja questionado pelas autoridades, pela imprensa corporativa e pelas organizações da sociedade. Aqui ainda é normal que a tropa de choque da PM avance para cima dos movimentos sociais e use todo tipo de violência contra as manifestações de trabalhadores, estudantes, mulheres, velhos e crianças.
Mas, quando a Polícia Federal desbarata verdadeiras quadrilhas dos mais variados crimes do colarinho branco (sonegação fiscal, estelionato, fraude, evasão de divisas, desvio de recursos públicos) e pega empresários, banqueiros, políticos, funcionários públicos graduados – especialmente gente com curso superior, mestrado e doutorado, com farto patrimônio em bens móveis e imóveis –, imediatamente aparecem na mídia respeitados figurões das elites para questionar e desqualificar a ação policial, mesmo quando preparada na conformidade da lei e com a ajuda do Ministério Público e do Judiciário.
As críticas das elites mais destacadas pela mídia empresarial dizem respeito à forma como se deu a denúncia e a prisão. Falam que houve “espetáculo” porque a imprensa teve acesso e gravou cenas dos figurões sendo presos. Falam que houve “abuso” e “violência desnecessária” porque os figurões foram algemados, o que é uma praxe recomendada pelos manuais de todas as polícias do mundo. Costumam lembrar, nessas horas, a importância do “Estado Democrático de Direito”, uma instituição que funciona para alguns, mas não vale para a maioria do povo.
Além disso, também nessas horas, advogados dos acusados, geralmente também figurões dos melhores escritórios do país, pagos a preço de ouro, procuram enfatizar que a prisão é descabida, já que seus clientes poderiam se defender das acusações sem o “constrangimento” das grades. Mesmo que tenham roubado grandes fortunas, assaltado os cofres públicos e praticado uma série infinita de delitos contra a sociedade, a lengalenga das elites é sempre a mesma: Exige um tratamento diferente ao dos ladrões de galinha que são encarcerados todos os dias pelo país afora. Por isso mesmo as elites brasileiras – os mais ricos, mais influentes e mais poderosos – não estão preparados para a democracia.
A maior demonstração de que a Justiça brasileira também não está preparada para a democracia foi dada pelo próprio presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, que criticou a “forma” e os “excessos” da operação policial que colocou o banqueiro Daniel Dantas na cadeia. Gilmar Mendes não demonstrou o menor interesse pelo fato essencial da operação, que foi o de desbaratar uma quadrilha que vem atuando há anos contra o povo brasileiro; não ficou sensibilizado com o fato de a operação policial ter colocado no mesmo nível de qualquer cidadão, democraticamente, figurões acusados de praticar crimes do colarinho branco.
O fato de Gilmar Mendes ter mandado soltar o bando do banqueiro Daniel Dantas, passando por cima de trâmites e prazos processuais, escancarou para a Nação a posição de classe do presidente do STF; expôs o órgão máximo da Justiça ao vexame público de que a Justiça não é igual para todos. A posição do presidente do STF, semelhante à reação das elites, lembra para a sociedade brasileira, mais uma vez, que a democracia ainda é algo muito distante da realidade. Aqui, os ricos ladrões do tesouro nacional vão continuar soltos, respaldados pelos poderes da República, enquanto os pobres ladrões de galinha pegam cana de verdade.
Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor da PUC-SP.

sábado, 12 de julho de 2008

Que vergonha, Brasil!

Sem contrato com a CBG, Jade Barbosa vive turbulência a um mês dos JogosPai diz que ginasta não recebe salário desde janeiro e teme por sua saúdeSimone Evangelista Do GLOBOESPORTE.COM, no Rio de JaneiroTamanho da letraA-A+Edson Silva/GLOBOESPORTE.COM Jade treina com Oleg: pai diz que fiha só está em Curitiba porque sonha com medalha olímpicaUma das maiores esperanças de medalha para o Brasil em Pequim vive uma dor de cabeça a um mês dos Jogos. A ginasta Jade Barbosa está sem contrato com a Confederação Brasileira de Ginástica. Desde janeiro deste ano, não recebe salário da entidade nem do Flamengo, seu clube, com o qual também ainda não formalizou um acordo, apesar de ter renovado por um ano. As informações são do jornal "Extra", do Rio de Janeiro.- A Jade nem sabe direito do que está acontecendo. Tento evitar falar isso com ela para não prejudicá-la - diz Cesar Barbosa, pai da atleta, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.Segundo Cesar, a CBG apresentou duas propostas. A primeira seria oferecer um salário de R$ 250,00 (referente a um repasse governamental), mais R$ 100, 00 de ajuda de custo. Outra alternativa seria um contrato pelo qual Jade ganharia R$ 350,00 e mais um bônus, desde que se comprometesse a fazer oito peças publicitárias para a empresa que patrocina a entidade.- Acho tudo isso uma falta de respeito com a atleta, com a família que se dedicou desde que ela tinha cinco anos. Todas as outras atletas assinaram, mas a Jade não está na ginástica para pagar a conta de luz. Não entendo como um país que quer sediar as Olimpíadas trata seus atletas como cachorros - dispara Cesar.'Não entendo como um país que quer sediar as Olimpíadas trata seus atletas como cachorros' - Cesar Barbosa, pai de JadeSaúde e condições psicológicas da ginasta preocupamO pai da ginasta também teme pela saúde da ginasta, já que, caso Jade se machuque durante as Olimpíadas, não há uma empresa comprometida a se responsabilizar.- Eu me preocupo, mas vou fazer o quê? A Jade só está lá (na seleção brasileira) porque tem chances de trazer uma medalha. Não sei quem é a pessoa responsável, mas acho que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tem que tomar uma posição.Dia de Treinamento: Jade Barbosa extrai força da dor e das lágrimas . Clique e confira!Procurado, o COB afirmou, através de sua assessoria de imprensa, que Jade terá um seguro saúde durante os Jogos, assim como todos os atletas da delegação brasileira. No entanto, além da segurança financeira de sua filha depois das Olimpíadas, Cesar também se preocupa com suas condições psicológicas para competir diante de tantos problemas.- A Jade não recebe nada da CBG, só escola, médico e moradia (em Curitiba, onde treina a seleção). Não tem direito nem a telefone, liga para casa a cobrar. Minha conta de telefone é de quase R$ 1.000. Ela fez 17 anos e eu comemorei pela internet (na última terça-feira, quando Jade competia com seleção na Bielorrússia). Foram incapazes de dar um telefone para ela ligar para a família. Depois dizem que ela está emburrada. Como não vai ficar, desse jeito?Site oficial é esperança de financiamentoO pai da ginasta, que sustenta a família com seu salário de arquiteto, se diz desiludido e acusa a supervisora da seleção brasileira de ameaçar mandar Jade voltar a treinar no Flamengo caso o contrato não seja assinado. Procurada pelo GLOBOESPORTE.COM, a dirigente preferiu não comentar as declarações.- Eu queria que ela voltasse para o Flamengo, mas não tem jeito. Se ela quer mesmo uma medalha, vai ter que continuar treinando com Oleg - conforma-se Cesar, que espera conseguir financiamento para Jade com a venda de produtos associados a seu nome através de seu site oficial, que deve ser lançado até o fim do mês.